Maurício Ferreira

sábado, 22 de outubro de 2011

Robinson rompe com governo Rosalba


O vice-governador Robinson Faria (PSD) rompeu politicamente com a governadora Rosalba Ciarlini (DEM). O anúncio, feito ontem, era esperado, já que o distanciamento dele foi iniciado a partir do momento em que o vice quis ser maior que a governadora. Ontem, em entrevista coletiva à imprensa de Natal, Robinson Faria deu sua versão para o fato e afirmou que começou a ser escanteado logo no início da administração. Contudo, o fator que culminou com esse processo é bem recente: a tentativa de emparedar o governo quando Rosalba enviou projeto relacionado ao pedido de empréstimo de US$ 540 milhões e nenhuma verba se destinava à Secretaria Estadual dos Recursos Hídricos, até então comandada pelo vice-governador.
Ele teria tentado modificar o projeto, orientando deputados de sua base a inserir emendas. No final dessa celeuma, Robinson tentou se fortalecer na Assembleia Legislativa com o PSD, convidando seis parlamentares, mas apenas dois se filiaram ao novo partido: Gesane Marinho e José Dias. O rompimento político anunciado pelo vice-governador se deu no mesmo dia em que a governadora Rosalba Ciarlini recebeu comitiva do PMDB da Assembleia Legislativa, liderada pelo deputado federal Henrique Eduardo Alves.
Robinson, nesses nove meses de governo, deixou entender que tinha um projeto para 2014: ser senador. E ontem, ao conversar com jornalistas, deixou evidente que o rompimento político com a governadora Rosalba Ciarlini teria sido por esse detalhe. Segundo ele, havia o compromisso de ele ser o candidato, mas tal projeto foi interrompido antes mesmo de ser iniciado. É que o DEM fechou aliança com o PMDB, cujo objetivo também envolve o Senado, mas com a candidatura do deputado federal Henrique Eduardo Alves, presidente estadual do PMDB.
Robinson Faria afirmou que o PSD - partido do qual é o presidente no Rio Grande do Norte - estaria sendo "patrulhado" pela governadora. Ele deixou entender que o governo interferiu diretamente na não-filiação do presidente da AL, Ricardo Motta (PMN), e dos deputados estaduais Vivaldo Costa (PR), Gustavo Carvalho (PSD) e Raimundo Fernandes (PMN) ao PSD. Essa ação foi confirmada recentemente pelo presidente nacional do Democratas, senador potiguar José Agripino Maia, que afirmou que Robinson teria tentado tutelar o governo.
Na conversa com os jornalistas de Natal, Robinson deixou claro que, a partir de agora, focalizará atenção em José Agripino e no PMDB. Tanto que ele questionou declaração feita por Agripino, sobre tentativa de emparedamento do governo: "que história é essa? O PMDB é muito maior que o PSD e será que vão dizer que é emparedamento do Governo?" O vice-governador foi mais além e afirmou que uma rede de "gueto" e de "intriga" foi montada contra ele visando aos seus espaços no governo.
Mais uma vez Robinson Faria mirou no PMDB. É que ele recebeu, recentemente, a confirmação de que a Barragem das Oiticicas, orçada em mais de R$ 300 milhões, passaria a ser responsabilidade da Secretaria dos Recursos Hídricos. O anúncio foi feito por Henrique Eduardo Alves. Por sinal, Henrique tem sido o alvo de Robinson desde que o DEM formalizou aliança com o PMDB.
Vice-governador mira o PMDB
A crise política envolvendo o vice-governador Robinson Faria e a governadora Rosalba Ciarlini ficou mais evidente no começo da semana. Ele, que havia sido exonerado da Secretaria Estadual dos Recursos Hídricos para assumir, interinamente, o Governo em virtude da viagem de Rosalba aos Estados Unidos, esperava ser renomeado ao cargo ainda na segunda-feira, 17.
Contudo, a renomeação não foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE). O chefe do Gabinete Civil, Paulo de Tarso Fernandes, que pediu exoneração do cargo ontem, depois que foi informado que Robinson anunciaria o rompimento político, chegou a elaborar o documento para posterior publicação no Diário Oficial, o que não aconteceu.
Robinson Faria, na coletiva de ontem, justificou como motivo do rompimento que havia sido escanteado e humilhado pelo governo. O fato é que os motivos que levaram a governadora Rosalba Ciarlini a assumir postura defensiva com relação ao vice-governador estão ligados exclusivamente à tentativa de Robinson em mudar o texto do projeto relacionado ao empréstimo de US$ 540 milhões.
Robinson Faria afirmou que foi vítima de um esquema que visava o seu enfraquecimento político e a tomada de seus espaços no Governo. "O que queriam eram os meus espaços no Governo. Foi montado tudo isso por pessoas que logo vão mostrar quem são", afirmou o vice-governador Robinson Faria ao anunciar rompimento político com a governadora Rosalba Ciarlini. As palavras de Robinson tiveram destino certo: o PMDB.
O desentendimento político entre o vice-governador e o governo democrata tomou corpo a partir das declarações do ministro da Previdência Social, senador licenciado Garibaldi Alves Filho (PMDB), durante encontros regionais da legenda. Garibaldi aludia sobre a possibilidade do deputado federal Henrique Eduardo Alves sair candidato ao Senado e com apoio do DEM.
Posição do PSD cria cenário positivo para o partido em Mossoró
A posição externada ontem pelo vice-governador Robinson Faria, presidente estadual do PSD, deixa o partido à vontade em Mossoró. Ou melhor: a nova legenda poderá, agora, oficializar o que já vinha sendo externado e deve seguir com a oposição no plano municipal. Aliás, o presidente do PSD local, vereador Francisco José da Silveira Júnior - que também preside a Câmara Municipal de Mossoró - já adotou essa postura ao ficar ao lado dos oposicionistas Jório Nogueira (PSD), Genivan Vale (PR) e Lairinho Rosado (PSD).
A oposição, por sinal, seria mais vantajosa politicamente para Silveira. É que o grupo governista se apresenta com uma lista de pré-candidatos à Câmara Municipal praticamente fechada e com sinais claros de que vai lutar por mais espaços na Casa. Caso faça a opção por uma coligação governista, a reeleição de Silveira estaria ameaçada, e ele sabe que o melhor caminho para a renovação de seu mandato é continuar aliança feita em 2008, quando ele se uniu ao PSB.
Rosalba lamenta saída de Robinson Faria e de Paulo de Tarso
Em nota enviada à imprensa no começo da noite, a governadora Rosalba Ciarlini se disse surpresa com a decisão anunciada pelo vice-governador Robinson Faria e pelo secretário da Casa Civil, Paulo de Tarso Fernandes. Segundo a governadora, a informação relacionada ao rompimento político de Robinson com o governo chegou por meio da imprensa.
Rosalba Ciarlini lamentou a decisão externada por Robinson Faria e Paulo de Tarso Fernandes. "Lamento que eles tenham deixado o governo no momento em que estamos reconstruindo o Rio Grande do Norte", disse a governadora na nota.
A governadora informou que, apesar da decisão externada por Paulo de Tarso Fernandes, não recebeu formalmente o pedido de exoneração do secretário do Gabinete Civil do Governo do Estado e disse que anunciaria o novo titular do cargo nas próximas horas. Até o encerramento desta edição o nome do novo secretário ainda não havia sido anunciado.
Robinson quis manter mesma postura que exerceu por oito anos no governo Wilma
De presidente da Assembleia Legislativa, onde liderava um grupo que considerava leal às suas posições políticas - e onde passou sete anos na presidência da Casa -, Robinson Faria passa a ser um mero coadjuvante na política estadual. É que, embora tenha 25 anos de vida pública, ele não conseguiu formar um grupo consolidado e que lhe resguardasse politicamente. Tanto que sempre esteve ligado às tradicionais lideranças políticas do Rio Grande do Norte.
De 2002 até meados de 2010, Robinson Faria era aliado da ex-governadora Wilma de Faria (PSB), com quem rompeu depois de não conseguir emplacar o projeto de disputar o Governo do Estado pelo grupo wilmista e se aliou à democrata Rosalba Ciarlini. Em 2002, ele havia sido convidado para compor chapa com o então candidato ao Governo, senador Garibaldi Filho (PMDB). Ele teria fechado, mas acabou apoiando Wilma, que venceu a eleição naquele ano.
No período em que presidiu a Assembleia Legislativa, Robinson Faria agiu como um governador paralelo. Era ele quem ditava as normas no governo Wilma de Faria, que não tinha maioria e, por causa desse detalhe, se submeteu às vontades de Robinson.
O vice-governador, ao que tudo indica, quis manter a mesma estratégia no governo Rosalba Ciarlini, mas o resultado não saiu como ele esperava e a ação contra a tentativa de tutelação do governo veio rápida através do senador José Agripino e da própria governadora Rosalba Ciarlini.
Com a saída de Robinson do governo, a tendência é que o vice-governador assuma postura de oposição, apesar dele ter afirmado ontem que estava saindo do governo para continuar "leal" à governadora Rosalba Ciarlini. Uma posição estranha.

*jornal de fato

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