Maurício Ferreira

sábado, 30 de junho de 2012

RN não recupera turistas nem investimentos



O Rio Grande do Norte não conseguiu reverter a queda do número de turistas estrangeiros nem recobrar o fôlego dos investimentos aplicados por pessoas físicas de outros países. No primeiro trimestre de 2012, os investimentos estrangeiros no estado caíram quase 30%, em comparação com o mesmo período do ano passado, e empurraram o RN, que já liderou o ranking nacional, do quarto para o quinto lugar entre os alvos de investimentos. Estados nordestinos como Ceará e Bahia passaram na frente e hoje estão atrás apenas de São Paulo. Na Bahia, o valor investido subiu 121,6% - crescimento quase oito vezes maior que o nacional.

Júnior SantosAeroporto Augusto Severo: recuo nos desembarques internacionais é um dos termômetros da desaceleração 
Aeroporto Augusto Severo: recuo nos desembarques internacionais
 é um dos termômetros da desaceleração

O Anuário Estatístico de Turismo 2012 - elaborado pelo Ministério do Turismo com dados de 2011 - também mostra recuo de quase 5% no número de estrangeiros que entraram no Brasil pelo Rio Grande do Norte no ano passado, em comparação com 2010. O número é 62,4% menor que o registrado em 2006, auge do turismo internacional no estado. Portugal, Espanha e Itália, que estavam entre os principais polos emissores de visitantes, enviam cada vez menos pessoas para o estado.

De acordo com George Gosson, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no RN (ABIH/RN), o nível de investimento estrangeiro pessoa física está diretamente ligado ao fluxo de turistas internacionais. "O turista de hoje pode ser o investidor de amanhã". A vinda em peso dos estrangeiros, relembra ele, movimentou o setor imobiliário e impulsionou o boom da segunda residência em 2006.

Para o vice-presidente da ABIH/RN, há vários fatores por trás da desaceleração no estado. "Os destinos que têm mantido ou aumentado o fluxo de turistas estrangeiros destinam mais recursos para divulgação". Mas não é só isso. O grande fluxo de turistas que embarcam e desembarcam em capitais como Recife, Salvador e Fortaleza, concorrentes diretas de Natal, justifica o aumento do número de voos diretos.

A redução do número de voos charter (aeronaves fretadas que só decolam quando todos os assentos estão ocupados) também contribuiu para a queda. "As operadoras internacionais que operam voos charter estão menos propensas a assumir riscos com o fretamento de aeronaves", diz Gosson.

A desaceleração, explica Jurema Dantas, diretora da Escola de Hospitalidade da Universidade Potiguar - que engloba Turismo e Hotelaria - implica em menos projetos, menos empregos e menos geração de renda. "A cadeia do turismo é muito grande. Quando há desaceleração, todos sofrem", diz. O quadro, segundo Jurema e Gosson, pode ser revertido a longo prazo. Mas para isso será necessário investir em divulgação e infraestrutura.

Estado vai buscar emendas para aumentar divulgação

Há menos de um mês no cargo, o secretário estadual de Turismo, Renato Fernandes, reconheceu que o valor destinado à divulgação do estado nos polos emissores de turistas é baixo. Ele se reunirá com parlamentares potiguares na próxima semana para pleitear mais recursos.

Segundo Fernandes, há uma emenda que prevê R$ 27 milhões para divulgação do RN, dinheiro que nunca foi usado. A governadora Rosalba Ciarlini, segundo ele, também se comprometeu a destinar mais R$ 2 milhões para a promoção do estado dentro e fora do país. Ainda assim é pouco, confessa. "Fortaleza e Recife investem cerca de R$ 50 milhões só em divulgação. Natal investe cerca de R$ 4 milhões", diz.

O valor investido pelo RN é doze vezes menor que o investido pelos principais concorrentes. "A gente sabe que a presença do turista está diretamente relacionada ao valor investido em divulgação", reconhece Fernandes.

Jurema Dantas, diretora da Escola de Hospitalidade da Universidade Potiguar, concorda com o secretário. "Como os estrangeiros virão, se nem sabem que Natal existe?", interroga. "É preciso vender o produto. E isso só pode ser feito com divulgação", responde Fernandes. Como forma de reverter o quadro, o governo, diz ele, vai passar a divulgar o destino em outros polos emissores.

"A Europa, um dos grandes polos emissores de turistas para o Rio Grande do Norte, está passando por uma crise fenomenal. Vamos continuar divulgando o destino neste polo, mas vamos buscar outros também, é isso que os outros estados estão fazendo", afirma.

A Copa de 2014, segundo George Gosson, da ABIH/RN, é a chance que o estado tem para frear a desaceleração. Durante o mundial, o número de turistas estrangeiros subirá para 84.979, de acordo com estudo encomendado pelo Ministério do Turismo à Fundação Getúlio Vargas (FGV). O fluxo previsto é o terceiro menor entre as 12 cidades-sede do Mundial, mas representará um incremento de 82,4% no fluxo de estrangeiros na capital potiguar. A 'disputa' pelos estrangeiros tem uma razão simples. Em geral, eles permanecem mais tempo no destino e gastam mais que os brasileiros.
 

*Andrielle Mendes - Tribuna do Norte

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