Maurício Ferreira

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mais de 100 escolas são fechadas no RN




No ano passado, segundo dados oficiais do Setor de Estatística da Secretaria Estadual de Educação, 100 escolas localizadas na zona rural de 52 cidades do Rio Grande do Norte, deixaram de funcionar. Dessas, quatro foram extintas (duas em Ielmo Marinho, uma em Macaíba e uma outra em Campo Redondo). As outras 96 foram paralisadas em 48 diferentes municípios do Estado.
Embora os dados sejam preocupantes, as escolas públicas rurais (municipais e estaduais) que ainda estão com as portas abertas contam com estrutura física e empenho dos professores e toda a comunidade escolar que não deixam a desejar às encontradas nas zonas urbanas das cidades.
Com essas boas estruturas, aprender a ler, escrever e, até mesmo, se formar num curso universitário, não é hoje mais um sonho distante para os moradores dos recônditos do Rio Grande do Norte. Em Serra Caiada, por exemplo, entre estradas de barro e plantações de macaxeira, Ricardo Antônio, aos 9 anos, aprende a escrever seu nome através de um programa de computador. Filho de pais semi-analfabetos, com déficit de aprendizagem e deficiência física, ele é um dos cinco alunos que recebem acompanhamento especial pela equipe pedagógica da Escola Municipal Walfredo Gurgel, fundada em 1968 no Sítio Fernandes.
Enquanto os professores da rede Estadual de Educação cobram a equiparação de salários ao piso nacional, os educadores das escolas rurais municipais em pelos menos três cidades potiguares visitadas pela TRIBUNA DO NORTE - Bom Jesus, Serra Caiada e Boa Saúde - recebem vencimentos acima da média, entre R$ 769 para quem tem magistério e R$ 1.354 para os que têm nível superior. Estes últimos representam cerca de 98% dos profissionais em atuação nas escolas do campo atualmente. Alguns deles, inclusive, são especialistas em determinadas áreas da educação. Além disso, ao longo dos anos, o estereótipo do "professor rural faz tudo", foi quebrado com a inserção de cozinheiras, porteiros e auxiliares de serviços gerais nas instituições de ensino.
As professoras de Ricardo Antônio são um exemplo desta mudança. Através do Programa Federal Escola Ativa, elas foram treinadas para lecionar em salas de aula com alunos com diferentes níveis de aprendizagem. O objetivo deste programa é fazer com que os estudantes aprendam através da troca de experiências, numa espécie de cooperativa, onde os mais avançados contribuem com o aprendizado dos que sentem dificuldade. Para isto, as escolas, por menores que sejam, dispõem de mapas, globos, jogos de raciocínio lógico e, quase todas, de laboratórios de informática. Muitos deles, inclusive, conectados à internet.
Apesar dos avanços, a secretária municipal de Educação de Serra Caiada, Mara Lívia, aponta que alguns problemas persistem. "Nós temos dificuldades em implementar novas modalidades de ensino. E até mesmo no cardápio da merenda das escolas. Existe uma resistência cultural muito grande que foi passada de geração para geração". Nas escolas das cidades visitadas, não falta merenda e o material didático é entregue semestralmente a cada um dos alunos.
Apesar da mudança conjuntural, os professores ainda enfrentam dificuldades em relação à proposta pedagógica de salas multisseriadas. "As famílias ainda não enxergam as salas com alunos de diferentes níveis positivamente", afirma a coordenadora das Escolas Rurais de Serra Caiada, Conceição Ferreira. A professora de Ricardo acredita que, apesar de trabalhar com até três níveis educacionais diferentes na mesma sala, é possível desenvolver um bom trabalho. "O exemplo mais nítido que temos é o do Ricardo. Além da sala, ele faz aulas de reforço com uma professora auxiliar", diz Maria José Honorato.
A dinâmica da Escola Ativa foi implantada em 2009, pelo então Ministro da Educação, Fernando Haddad. Os professores consultados foram unânimes em afirmar que os resultados são muito satisfatórios. As escolas desenvolvem, inclusive, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), plantam hortas comunitárias e praticam esportes em quadras construídas ao lado das escolas. O objetivo primordial, além da alfabetização em sua plenitude, é fazer com que os camponeses permaneçam e evoluam em suas comunidades.

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